DEMA '95

Revista SUB # 10, Abril 95
© 1996 Pedro Paulo Cunha

Entre 26 e 29 de janeiro, pela primeira vez a cidade de São Francisco (Califórnia, EUA) foi o palco do maior evento de mergulho do mundo, o DEMA Trade Show. Foi a 19ª edição do evento (o primeiro foi em 1977), contando com mais de 600 expositores e 20.000 participantes.

A feira foi no Moscone Center, o maior centro de convenções de São Francisco e ocupou três andares, dois com os expositores e um com salas de apoio e para palestras. O espaço parecia menor do que o utilizado por feiras anteriores, o que fez com que os tradicionais estandes gigantes dos grandes fabricantes ficassem bastante reduzidos. Os expositores do 2º andar foram nitidamente prejudicados pelo menor volume de público presente.

A DEMA XIX marcou a estréia da "nova DEMA". Fundada em 1973 como Diving Equipment Manufacturers Association (Associação dos Fabricantes de Equipamentos de Mergulho), no final de 1994 a DEMA se transformou na Diving Equipment and Marketing Association. A mudança visou permitir que a associação congregasse não apenas os fabricantes de equipamentos mas também os outros quatro segmentos da indústria do mergulho: revendedores, agentes de viagem e operadores, agências certificadoras e a mídia especializada - foi o reconhecimento de que o mercado de mergulho é muito mais abrangente que a manufatura de equipamentos.

Sem grandes novidades, a maioria dos fabricantes buscou uma associação de imagem com o mercado de mergulho técnico (responsável pelas grandes inovações em termos de equipamento) ou a grupos de aventura ou exploração. Todos os fabricantes mostraram uma mudança de comportamento, buscando uma aproximação maior com o consumidor final e olhando com mais atenção para suas necessidades - um fruto do aumento da competitividade do mercado...

No tocante aos equipamentos, era perceptível o aumento do número de pequenos fabricantes, ao mesmo tempo em que se percebia o interesse cada vez maior dos grandes fabricantes no projeto e comercialização de novos produtos, deixando a manufatura por conta de terceiros, em especial por indústrias asiáticas.

A U.S. Divers era um dos estandes mais curiosos, apresentando não apenas uma nova linha de produtos voltada para o mercado mais técnico (como roupas secas, equipamentos de comunicação e máscaras full-face) mas também o retorno de alguns produtos bastante familiares para aqueles que mergulhavam no final dos anos 70 e início dos 80: o regulador Aquarius (em uma versão "cosmeticamente modernizada" voltada para o mercado de baixo custo e de aluguel) e os cilindros duplos Aqualung.

A Dacor levou para a DEMA um robô especialmente desenvolvido para o teste de nadadeiras, capaz de simular os movimentos de um mergulhador e medir a eficiência de cada novo modelo. As novidades ficaram por conta da nova linha Integra, com máscaras de campo de visão expandido e coletes com novo design.

A Scubapro também percebeu o crescimento do mercado de mergulho técnico e apresentou cilindros de aço de alta capacidade, roupas secas, máscaras full-face e torneiras duplas. Toda a sua linha de produtos foi "americanizada", com novas cores e desenhos com o objetivo de aumentar a participação da empresa no mercado norte-americano. Seu estande era um dos mais cheios devido à presença de Bob Talbot, um dos maiores fotógrafos do momento, que permanecia até depois do final da feira autografando posters e conversando com o público, sob o patrocínio da Scubapro. Outra novidade foi o anúncio de que a Scubapro está negociando sua vinda oficial para o Brasil, através de um novo representante.

A Mares apresentou o seu novo regulador topo de linha, o Abyss e a linha Riviera, de baixo custo, voltada para o mercado de aluguel e escolas. Além disto, voltou a importar para o mercado americano sua linha de armas para caça submarina e de roupas "semi-secas", para uso em águas frias.

A Beauchat foi um dos fabricantes a apresentar o maior número de novidades. Além de novos modelos de equipamentos básicos, a Beauchat lançou uma linha de equipamentos específica para mergulhos com Nitrox, contando com reguladores, cilindros e manômetros. A Beauchat também anunciou o fim de sua longa parceria com a Uwatec para comercialização de computadores, apresentando uma linha totalmente nova fabricada pela Cochran Undersea Technology, incluindo um modelo compatível com Nitrox.

O mercado de computadores também mostrou grandes novidades. Após anos trabalhando em parceria com grandes fabricates, a Uwatec (fabricante do popular Aladin) adquiriu personalidade própria e apresentou uma linha totalmente nova de produtos, do "Aladin AirX" (o modelo mais sofisticado, contando com medição de pressão do cilindro sem mangueiras e um software para análise de mergulhos em PCs, o "Scuba Trak") ao "The Digital" ( um profundímetro, bottom-timer e logbook digital), além de uma linha de manômetros e profundímetros analógicos. Os modelos mais antigos de computadores (Aladin Pro e Aladin Sport) continuam em linha e vendendo bastante bem.

As maiores novidades em computadores ficaram por conta da Cochran, que apresentou quatro novos modelos: o "Captain" (de baixo custo), o "Commander" (com um novo algoritmo para cálculo de descompressão que leva em conta temperatura da água, velocidade de subida, compensação automática de altitude e ajustes para mergulhos repetitivos) e o "Nemesis II" e o "Nemesis II Nitrox" (modelos topo de linha que integram funções de cálculo de consumo através de uma interface sem mangueira com o cilindro), além de um software especial (o "Dive Master") que permite a descarga de informações dos computadores Commander e Nemesis para computadores pessoais padrão IBM-PC.

A Oceanic trouxe de seu estande na tek.95 seu novo equipamento de circuito fechado Phibian, anunciando uma revolução iminente no mercado de mergulho, além de apresentar toda a sua nova linha para 1995. A Pelican lançou uma nova mala para fotógrafos que causou grandes filas à frente do estande. A diferença ? Uma pequena mala destacável dentro da principal para o transporte de equipamentos menores ou câmaras para uso terrestre. A Cressi-Sub mostrou um interesse renovado no mercado americano e compareceu à feira com toda sua linha de equipamentos e um dos maiores estandes.

A Mako chamou a atenção pela sua nova linha de estações de recarga, com compressores e bancos de armazenamento trabalhando a 6.000 psi (420 atmosferas, o dobro da pressão normal), que permitem o estoque de grandes volumes de ar em espaços bastante reduzidos, agilizando a recarga de grandes quantidades de cilindros ou permitindo a recarga mais simples de cilindros que trabalhem a pressões mais elevadas.

As principais agências certificadoras também estavam lá. A PADI entrou na era da multimídia, apresentando o Scuba Tune-Up Multimedia, seu primeiro programa de treinamento interativo em CD-ROM além de anunciar uma campanha de marketing bastante agressiva nos EUA, com anúncios e programas especiais em diversos canais de TV a cabo (entre eles a ESPN e o Discovery Channel, disponíveis no Brasil). Embora tenha lançado novos vídeos e programas de treinamento e apesar dos boatos que corriam no mercado nacional, ainda não foi desta vez que pudemos ver as versões em português de seu material didático.

A SSI anunciou para 1995 o lançamento do material de seu curso básico e de algumas especialidades traduzidos para o português, enquanto que a PDIC se destacava por ser a única a já ter disponível o material em português, o que é um grande recurso para a maioria das escolas.

Além da exposição a DEMA XIX contou também com mais de 400 palestras sobre os mais diversos temas. Logo na abertura, Harvey Mackay, um conhecido empresário e autor de livros sobre estratégias de negócios apresentou um seminário sobre competividade, dando ênfase no uso do marketing criativo, na qualidade dos serviços e na necessidade de processos de fabricação manufatura state-of-the-art. Durante o dia 25 (antes do início da feira), o foco foi nas estratégias de negócios para fabricantes, operadoras e revendas. Nos outros dias, mais de 20 salas foram utilizadas para palestras sobre equipamentos, viagens, técnicas de venda, segurança, vídeo e fotografia patrocinadas por empresas de todos os tipos, desde PADI e U.S. Divers até revistas como Ocean Realm e Rodale's Scuba Diving.

No balanço geral, a DEMA XIX foi um bom evento, sem grandes novidades mas ainda assim capaz de reunir sob um memsmo teto todos os principais representantes da indústria de mergulho e de mostrar as tendências para os próximos anos. A próxima feira (DEMA XX) será em New Orleans, entre 18 e 21 de janeiro de 1996. Se você quiser participar, é bom lembrar que a DEMA é uma feira fechada ao público e é preciso ser um profissional da área ou convidado para obter um crachá de acesso.